Passava uma ligeira brisa quente por entre os Jacarandás, que frondosos e exuberantes, largavam doces pepitas roxas que caiam muito devagarinho ao redor dos copos vazios de Whisky Yamakazi Puncheon.
A esplanada cheia de gente, crepitava de vagar, de moças e rapazes esbanjando tempo, de poetas, rimadores e ex-jornalistas, de escritores, decoradoras e filósofos, enfim, eram várias as personalidades do meio artístico, cultural e desportivo, sobretudo maratonistas, que ali se encontravam para desfrutar os longos e amenos dias que se faziam sentir na época mais prazerosa do ano. A mudança da estação.
Duquesa de Pi, uma senhora muito bem posta na vida, sorvia o néctar dos deuses Yamakazis por uma curiosa palhinha cor-de-laranja que havia trazido da última viagem à Índia, onde tinha passado dois meses inteirinhos a meditar, instalada num belíssimo hotel chamado SanMeditEpicLight - clique aqui para marcar já!
Sentada na sua poltrona de veludo, a única da esplanada com aquele tecido, acariciava as pernas muito depiladas e ainda dormentes do esforço da maratona meditativa, e despachava encomendas de verniz e de cremes depilatórios, apontando tudo proficuamente num lindo caderno com gatinhos, oferta de uma amiga muito fófi, que se dedicava à adoção de animais abandonados, e os vendia depois on-line, com grandes laços no pescoço.
E estava totalmente absorta nisto, quando se apercebeu duns olhos muito negros que a observavam de soslaio, tentando desesperadamente ver o que fazia, como fazia e sobretudo como fazer igual.
- Duquesa de Pó? Por aqui?
- É verdade amiga, vim descontrair um pouco à esplanada e fazer alguns negócios sociais. - Dizia a Duquesa de Pó, sem tirar os olhos do caderno da amiga.
Duquesa de Pó, que odiava acima de todas as coisas o Whisky Yamakazi Puncheon, sobretudo o Chell Filtered, porque lhe fazia lembrar a sogra, sorvia com notada dificuldade um detox de nabo gourmet, sobretudo para agradar à amiga Duquesa de Pu, que agora se dedicava a essa área de negócio.
- Mas diga-me amiga Pó, o que tem feito por estes dias?
- Ahh, tenho-me encontrado muito ocupada em diversas angariações e feiras - clique aqui para contribuir já! Sabe bem como sou apegada e sensível aos problemas do povo, e o que me esforço para estar em todas as frentes. Por falar nisso Duquesa de Pi, estou a organizar para este sábado uma feira muito gira de traquitanas e ...
- Ohhh, que pena, adoraria, mas estou totalmente tomada com uma maratona de 10 850 km barreiras, e bem sabe que não perco uma - clique aqui para fazer a inscrição já - oferecemos brindes!
Duquesa de Pó, furiosa com a resposta negativa da outra, começou logo ali a congeminar uma maneira de se vingar da 'amiga'. Pegou no seu portátil novo, abriu a sua rede social, e iniciou aquilo que tinha em mente.
Ali à volta, umas duzentas ou (mil e) trezentas (milhões de) pessoas atropelavam-se para tocar ao de leve nos cabelos das suas divas, mas um tal de Inácio Pancrácio, mais conhecido por IP, um armário enorme treinado pelo temível PT, rondava a mesa para impedir abusos e descobertas pouco abonatórias das suas clientes, o que acabava por afastar alguns anónimos, sobretudo os da espionagem industrial, conhecidos por espalhar a difamação dos produtos, e algum bom-senso nos consumidores.
Nisto, um reboliço acendeu na ponta mais a sul da esplanada, e duas garbosas madames, ambas vestidas de macacão preto Osho, gritavam qualquer coisa sobre a possibilidade de haver contrabando nas altas esferas do comércio internacional, e de estar instalado o caos nas vendas on-line.
- Como assim, é um pano?
- É como lhe digo, isso que traz vestido não passa de uma grande fraude.
- Mas, mas, se foi a minha amiga de anos, a Duquesa de Pé que mo vendeu, como pode ser isso, uma senhora tão fina e tão minha amiga? E o stock, que faço eu agora ao stock?
E a conversa continuou animada, com diversas opiniões sobre as possíveis formas de escoar o produto, que pelos vistos até não era assim tão mau, devido às suas multi aplicabilidades, em várias áreas da casa e em várias horas do dia.
Tudo se resolveu, e as vendas lá seguiram o seu curso - clique aqui para encomendar já!
Mas, a esplanada habituada a vulcões temporários - cujas fagulhas sempre se apagavam inofensivas na calçada da cidade -, parecia estar mais interessada numa rapariga muito bonita e vistosa, que ali acabava de chegar com umas sandálias-minhoca muito enroladinhas às pernas, e cuja beleza, parecia encantar toda a plateia feminina.
- Ahhhh que sandálias tão feias!
- Não, não, são lindíssimas, e que qualidade!
- Ui que careza! Serão de oiro?
E logo se juntaram pessoas de todos os lados da esplanada, para tocar ao de leve nos cabelos da grande diva grega, a ver pelas sandálias - clique aqui para encomendar já! Últimos números!
Vrummmm! Vrummmm!Vrummmm! Vrummmm!
Um barulho ensurdecedor assustou a esplanada.
O som era tão forte e tão medonho que várias personalidades se encolheram para debaixo das mesas, cheias de medo de serem identificadas com aquela monstruosidade.
Era o Flamingo das Cavernas da Buraca, homem de grande elegância e distinção, que com a ajuda da sua bengala-torpedo, saía de um carrão roxo muito antigo mas muito... antigo, e de nariz empinado perscrutava o ar, cheirando o suave odor dos Jacarandás e o perfume das Duquesas mais finas. Perfumes Franceses. Clique aqui para encomendar já!
Logo atrás dele, um enorme tractor cheio de lama nos pneus, parava também. Trazia no grande atrelado de madeira de mogno um apinhado de raparigas muito magras, e muito belas, diziam elas, que acabadinhas de chegar à cidade e decididas a implementar uma nova forma de fazer negócios, se espalharam pela esplanada, estrategicamente, conquistando de imediato muitas das clientes que gravitavam embevecidas à roda das Duquesas, mas que procuravam novas formas de vida.
Muitos dos negócios que ali se faziam, desfizeram-se. As Duquesas, amontoadas todas a um canto, coitadinhas, choravam agarradas umas às outras, e o que se passou de seguida ficou nos anais da história.
Aquilo que se pensava ser o início de uma guerra, feia, sangrenta, horripilante, ficou conhecido como Blogosfera, uma esplanada gigante no meio da cidade, cheia de gente diferente, umas duquesas outras marquesas, umas doces, outras tigresas, mas todas senhoras de grande elegância e inteligência, alguns homens muito cultos e animais de rara beleza.
Flamingo das Cavernas da Buraca, sem saber o que fazer com tanto mulherio, e com os cavalheiros que isso ali atraia, sentou-se numa mesinha muito afastada, pediu um copázio cheio de Grants novo, que engoliu de um trago e gostou, e iniciou um pensamento que havia de o atormentar por longos anos.
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