Nikita, Nikita.
Hoje, quando te vi ali sentadinha na caixinha dos amigos da Uva, viajei no tempo.
Tu hoje fizeste-me regressar à bonita idade de 7 anos.
Naquele tempo, no verão, os miúdos brincavam nas escadas dos prédios. É. Uma rua sem carros não é a mesma coisa, e nós, crianças do antigamente, só víamos um carro no carnaval de Loures.
Mas isso agora não interessa nada.
Eu, miúda apaixonada, tinha um namorado que me ficava aí pela cintura, mas ele era tão engraçado que acabei por o adotar. Ele adorava dançar. Eu achava-o parecido com o homem da música, mas ele nessa altura ainda não sabia.
Brincávamos nesse dia ao festival da canção. Ele colocou então uma barba postiça, para ser mais moderno, sentou-me no terceiro degrau da escada e começou a dançar e a cantar. Que tempos aqueles...
Mas, por motivos óbvios, ele quis ir um pouco mais além, e começou a fazer uma dança maluca que incluía tirar a roupa, nada de estranho, tínhamos 7 anos, era normal as crianças despirem-se nas escadas, pelo menos os meus namorados.
Vai daí, começou a fazer uns movimentos com a cintura, sempre ao som da Nikita, e no exato momento em que a música subia, ele sentindo o ar quente que vinha da rua, achou fixe fechar a porta com uma cuzada valente, eeeeeeeeeeee zás!
O vidro da porta partiu-se em 50 cacos e o meu namorado anão, e tu nunca queiras namorar com um miúdo anão que dança nu nas escadas, saiu disparado de cu pela porta e ficou todo escaqueirado de perna aberta, uma visão interessante para uma miúda de 7 anos, na parte de fora do prédio, envolto na música, nos cacos e na vergonha.
É.
Fizeste muito bem em aparecer por aqui.
Já eu, nunca mais me livrei da culpa de andar a despir rapazes nas escadas e de os obrigar a fazer malabarismos com o rabo.
Na verdade, o meu namorado anão, continuou a fazer malabarismos com o rabo, mas isso agora também não interessa nada.
Bem vinda Nikita.
My home is your home!