Ando há dias para falar nisto e ainda não tinha tido coragem.
Apeteceu-me novamente falar disto no dia do pai, onde li em tantos lados a frase 'fui mãe e pai', mas depois pensei, penso sempre, que poderia não me saber explicar, ou não me fazer entender, o que não é a mesma coisa, e deturpar algumas cabeças, sobretudo as que lêm tudo na diagonal, muitas das vezes só aquele pedacinho do início dos parágrafos, e me punha a jeito, ou armava mesmo uma qualquer confusão, coisa que não seria de todo aquilo que tinha em mente ao escrever este texto.
Para apresentar o tema aos leitores, e tendo como pano de fundo a plena consciência de que não posso albardar este burro à minha vontade, isto é, não posso fazer pender a minha opinião por ter lavado nessas águas as minhas mãos, ou ter quem as tivesse lavado aqui muito próximo, para dar à luz uma opinião razoável, tentarei não o fazer, porque isso já não seria albardar o burro à minha vontade/experiência, isso seria antes substituir-me a ele.
Mas, infelizmente, a croniqueta de opinião que aqui vou debitar é, apesar do meu esforço, baseada em apreensões que faço da vida, e conclusões que tiro dela, pelo que alertados para esse facto, os leitores depressa verificarão que as conclusões não são cientificas, ficando aliás a dever muito ao método experimental, tão difícil na área do comportamento animal
Refiro-me naturalmente às mães solteiras, às mães sozinhas, às mães que por escolha ou destino, fado ou enfado, criam sozinhas durante todo o tempo, ou a maior parte do tempo, os seus herdeiros sem a ajuda do pai.
Quero fazer desde já uma ressalva que pode ser importante, ainda não sei, pois que ainda agora comecei e ainda não sei bem onde me levará o texto: pai não é o mesmo que progenitor. Posso ser progenitora e não ser 'mãe', e posso ser mãe não sendo progenitora. As nossas antiquadas leis ainda não definiram isto, e é pena. Quero com isto dizer que a parentalidade atual, representa um novo modelo de atuação paterna no contexto familiar, deixando claro que tornar-se pai é muito mais do que definir-se biologicamente como pai.
Dizia eu, que pretendo discorrer sobre esta temática de ser pai e mãe - há falta do elemento masculino - que discordo em absoluto, com base em pensamentos meus que podem estar muito errados, e peço desde já a vossa ajuda nesta clarificação.
Posso afiançar, que afianço, que talvez as mães que criam sozinhas filhos, ainda não tenham parado para pensar bem nesta afirmação, e que por isso a repetem de forma algo impensada.
A natureza é clara neste ponto: o óvulo recebe o espermatozoite que o fecunda dando origem ao novo ser. Querer substituir, mesmo que simbolicamente, este espermatozoide, constitui, logo à partida, uma contra-natura, uma impossibilidade. A natureza está em nós desde o princípio dos tempos; não há como alterar isto.
Aqui, estou certa, de ter todas as opiniões a meu favor.
Passemos então para a construção da natureza genética, isto é, para a construção de uma natureza construída socialmente.
O pai e a mãe desempenham um papel especifico na construção da identidade da criança, e um pai, apesar de ser prescindível, é insubstituível, mesmo que estejamos perante uma mulher masculinizada.
Vejamos:
Uma mulher capaz, vá, uma Maria capaz, consegue desenvolver atividades masculinas, pode até em algumas situações ser melhor que o pai,
Podemos mesmo dizer que a criança não necessita do seu pai pois pode ir buscá-lo facilmente à paternidade coletiva, ou seja, buscar na sociedade o papel que lhe está vedado pela ausência do seu pai.
Mas isto reforça a minha ideia de que o papel do pai é absolutamente necessário na construção da criança, que na falta do seu próprio pai o encontra em outros 'pais'. A categoria de 'pai' torna-se facilmente transferível a outras figuras, mas isto só acalenta que há uma necessidade absoluta de pai, caso contrário não havia necessidade desta transferência.
Podemos mesmo associar o desaparecimento da figura do 'pai' à evolução das sociedades modernas, onde pai significa austeridade, respeito, e submissão, coisa que agora, num mundo muito feminizado, se pode descartar e é até amplamente apoiado.
Não posso ir por aqui, isso seria sobrepor-me como mulher, ao homem, e não é isso que gera a igualdade, coisa que venho defendendo.
Então porque é que uma mãe nunca pode ser mãe e pai, baseando-se apenas no espaço temporal que ocupa em seu lugar?
A resposta, quanto a mim, radica na própria criança, que não consegue identificar uma mãe como sendo também pai, apesar de ser criada só por ela e reconhecer o esforço adicional de a criar sozinha.
A construção de ser mãe e pai é uma construção totalmente feminina, que tenta a todo o custo minimizar na criança, a falta, tentando minimizar o sofrimento da criança, mas que em nada coincide com a opinião desta.
O que as crianças anseiam não parece referir-se ao modelo nuclear de família mononuclear matriarcal, uma vez que relatam, em alguns casos, altos graus de satisfação nos seus relacionamentos familiares atuais. Procuram sim, serem reconhecidos enquanto seres valiosos e importantes, em especial, por aqueles que os conceberam. A ausência do pai é sentida, então, não apenas como a falta de uma figura de autoridade moral dentro do arranjo doméstico, mas, e principalmente, como omissão de um membro importante na constituição da história de vida destes sujeitos.
E a falta de um elemento insubstituível, embora prescindível socialmente, pode não ser visível aos olhos da sociedade, mas é amplamente sentida ao nível do eu, do ego, da segurança e do seu espaço na sociedade, sobretudo na afirmação tão necessária na adolescência, e nos traumas da abstinência tão visiveís na idade adulta.
A presença efetiva do pai, implica uma diferença significativa na sua trajetória de vida?
O que são estas mães além de todas as outras?