Para escrever este post, deixo-me de leviandades, ponho de lado a máscara social, abro o peito às balas, ao preconceito e ao medo, de me ferir, de me arrepender, e de errar na minha análise inquinada por tradições e crendices das quais não tenho ainda maturidade suficiente para me afastar.
Não tenho maturidade, é bem certo, não assentei os arraiais do pensamento, não consolidei as ideias espartanas da idade adulta, não li o suficiente, não sei o suficiente, e posso mesmo ser falha no julgamento que faço hoje, derramando nesta folha virtualmente branca, a grande nódoa da discriminação.
Ainda assim, arrisco-me à critica dos que me lêem anonimamente, e porque não posso deixar de ser um ser pensante, questionador, venho, quiçá com ideias retorcidas sobre temas lineares, julgar os que não me são nada, e tendo, como todos, o livre arbítrio para me achar no direito de fazer o julgamento que acho mais acertado para este assunto que se me apresenta. Vil.
E sobre o tema da comunidade cigana, a minha opinião esculpida por todas as circunstãncias atrás referidas, é muito particular, porque foi formada em parte pela experiência social, em parte pela cadeiras da faculdade, (tão profícuas a ensinar para a diferença), e em boa parte, pelo nível de maturidade em que me encontro neste momento.
Eu, no que respeita aos ciganos, não consigo ver a árvore.
Aliás, o que vejo é uma ilha, cercada de água por todos os lados, composta por um denso mato alto, alguns animais ferozes, progenitoras sedentas, e um jugo poderosíssimo dos anciãos iletrados, sofridos, com uma composição genética talhada unicamente para a sobrevivência dependente e perfeita, tal como a bactéria multirresistente faz do seu complacente hospedeiro.
O povo cigano, ou os filhos do vento como gostam de romancear, são um povo isolado, pouco evoluído na socialização, reprodutor de comportamentos anti-sociais, tradicionalmente aceites e aprovados pela sua comunidade, que se desenvolvem como uma seita, que conscientemente e orgulhosamente reproduz a cada geração, o mal que a todos perturba.
Os ciganos não pagam impostos.
Os ciganos roubam e mordem a mão que lhes dá o sustento.
Os ciganos enganam como respiram.
Os ciganos são sujos, cheiram mal, não lavam os cabelos e não fazem a barba.
Os ciganos dizem palavrões, gritam muito alto e agem em matilha.
Os ciganos não gostam de 'nós'.
Os ciganos não gostam da escola.
Os ciganos têm piolhos.
Os ciganos atormentam o bairro com tiros e cantorias.
Os ciganos fazem fogueiras na rua da cidade mais linda.
Os ciganos conduzem Mercedes mas não tiram a carta.
Os ciganos são todos muito ricos, mas andam à pobre para sacar o nosso dinheiro.
Os ciganos não servem para nada.
Vamos matar os ciganos e viver felizes para sempre.
Eu, no que respeita aos ciganos, não consigo ver a árvore.
Mas consigo ver o fruto.
Antes de começar a debitar as minhas ilações sobre os ciganos, deixem-me dizer-vos que há pouco tempo tomei conhecimento da criação de uma turma só com filhos de professores, numa escola da Metrópole,
É.
Caminhamos pois para uma sociedade segregadora, onde só os melhores, os mais ricos e os filhos dos mais cultos (professores?) podem ter acesso à educação de qualidade.
Os meninos, super-inteligentes e com pouca resistência ao seus pares, (filhos dos homens do campo, ou das cidades, ou do trabalho - nós todos portanto), não podem misturar-se e não podem ser incomodados com as perguntas estúpidas nas salas de aula, com a pequenez do cérebro dos filhos dos outros profissionais, para que não interfiram na sua evolução super-sónica, em comparação com a lentidão evolutiva dos outros.
E agora?
Em que ficamos?
Pois bem. Eu para já fico atónita.
Não sou mais que ninguém e também eu, e quem é que eu quero enganar, sou uma segregadora em potência dos ciganos. Tenho o meu quê de comportamento discriminatório, sou um produto inacabado (e imperfeito) das minhas circunstâncias e da minha educação. Nunca tive piolhos. Não gosto de piolhos e ainda menos de piolhosos.
Se gosto dos ciganos?
Não sou fã de ilhas isoladas.
Olhem lá com atenção para aquelas carinhas ali da fotografia.
Parece incrível a semelhança com alguns dos nossos pais e avós, em crianças.
Descalços, sem instrução, labregos, pobres, pequenos nadas, pequenos homens, ranhosos.
Podia ser eu. Podiam ser vocês.
Mas não. São ciganos, são o fruto podre da floresta.
E é aqui que eu quero chegar.
Então vamos agora, agora?, regredir e criar guetos dentro da escola, como se faz no Jardim Zoológico de Lisboa, jaulas de animais ciganos, como bichos selvagens que mordem e rapinam as pobres borrachas e canetas dos meninos civilizados?
Mandamos para a forca um professor, para tentar a domesticação destes meninos ranhosos e com piolhos, evitando a todo o custo que se misturem e aprendam as regras da sociedade onde se inserem?
É isto que querem fazer?
Criar uma revolta latente nestes meninos, que por sorte ou por adrego, nasceram numa família diferente, que nos incomoda muito, a nós e às nossas convenções de merda?
São agora os professores desta escola (que de outros professores não posso alvitrar tal acusação - por ser injusta e mentirosa) os novos justiceiros da sociedade? Os que separam o trigo do joio para criar uma sociedade impoluta e livre de piolhos?
Que estupidez foi esta, senhores?
Crês mesmo que assim os meninos ciganos, coitadinhos, não têm culpa, se sentirão mais aconchegados na sua jaula com os outros ciganos da mesma espécie?
É assim que querem ensinar os vossos filhos e os filhos dos outros? Para a diferença ou com a diferença?
É a seleção natural que almejam ou é a soberba de vos parecer melhor assim? Mais prático. Mais asseado.
Eu não quero a minha filha numa escola onde há uma turminha do lelo.
Já bem basta a dificuldade de lhe explicar que a diferença faz parte de todos os frutos, que não há nenhum igual, e que todos fazem uma bonita cesta, e agora querem ensinar-lhe que os frutos devem ser todos separados porque as bananas são mais nutritivas que o pêro?
E se for um deficiente? Vamos po-lo numa salinha sozinho a bater com a cabeça na parede? E se de repente ela própria tem essa experiência de forma pessoal?
Vai matar-se de medo e esconder o filho em casa? Como faziam os grandes senhores da terra ao pretos seus filhos?
A mim custa-me muito que os alguns ciganos não queiram dar-se uma oportunidade de evoluir e que privem os seus filhos da escola, da sociedade e da instrução. Custa-me que possam ser violentos, barulhentos, perigosos, mafiosos, um sem número de predicados pouco abonatórios. Mas são únicos?
Custa-me vê-los contra tudo e contra todos, desejando apenas que os deixem em paz, com os bolsos livres de impostos, gritando impropérios às senhoras da Seg. Social, mas custa-me muito mais, ver os outros, os super-sónicos letrados, a criar um fosso ainda mais profundo entre a fruta podre e o oásis no deserto.
Custa-me, e por isso voto contra.
Quem foi o cabecilha disto?
Há muita fruta podre neste mundo, e ademais, é comida com grande prazer.
Parece-me que este professores, revestidos de uma infantilidade gritante e descabida, ainda não aprenderam que para mudar o mundo temos de começar pelas minorias. Agir localmente e pensar globalmente.
Alguém que lhes diga isto.
Por favor.